Época dos prémios literários III - o Nobel
Os problemas do Nobel da literatura são os conhecidos:
- escandinavos merecidamente obscuros nos primeiros anos
- aquele ano em que o júri se premiou a ele mesmo (1974 - o equivalente ao tesoureiro ir servir-se da conta da sociedade, que o prémio também é dinheiro - e muito)
- escolhas politicamente correctas nos últimos anos
- omissões escandalosas em geral
Mas o que me chateia mais é o prémio ter deixado de ser atribuído a ensaístas/filósofos e historiadores. Era das poucas vantagens que tinha sobre outros prémios puramente literários.
O novo Secretário Permanente da Academia Sueca, Peter Englund (que fez uma triste figura o ano passado ao anunciar o nome da vencedora em pose revisteira de mão na anca), é um historiador, com trabalho de grande qualidade na área da História Militar, e poderia ao menos sugerir à Academia que voltasse a galardoar um ensaísta ou um historiador ao fim de várias décadas sem o fazer (os últimos foram Churchill, em 1953, e Sartre, em 1964), mas pelo que diz quem sabe, não tem qualquer influência sobre as decisões da Academia quanto ao Nobel da literatura.
Prognósticos só depois do resultado
A avaliar pelas apostas na Ladbrokes, a fuga de informação anual indica aparentemente o nome do queniano Ngugi wa Thiong'o.
O ano passado, o meu palpite era o de que Agota Kristof ou Dubravka Ugresic poderiam bem ganhar, e no fim quem ganhou foi também uma escritora da Europa Central, pelo que não errei por muito.
Este ano, ignorei os persistentes rumores no sentido de que o vencedor irá ser um poeta, muito por em 2009 a Academia Sueca ter dito que Herta Müller tinha ganho o prémio Nobel devido tanto à sua prosa como à sua poesia, o que para todos os efeitos dispensava a Academia da difícil tarefa de galardoar um poeta, pelo menos por alguns anos.
Tendo em conta quantos anos passaram desde que a Academia Sueca entregou pela última vez o prémio a um autor de língua castelhana, pressupus que está na altura de o voltarem a fazer. E tendo em conta também o quanto o prémio Nobel da literatura tende a favorecer escritores que foram vítimas de censura, repressão ou perseguições (ou que as utilizaram como tema), bem como os autores dotados do perfil nobelizável de Grande Senhor da Literatura com intervenção pública humanista em favor de causas nobres (excluíndo assim os autores reclusos como o Pynchon, com convicções políticas questionáveis como Céline - sim, eu sei, Hamsun, mas ele ganhou o Nobel muito antes de apoiar os Nazis - ou mesmo apenas com uma visão pessimista da humanidade como Houellebecq - sim, eu sei, não é bom o suficiente para ganhar o Nobel; só está aqui como exemplo), o meu palpite para este ano era Jorge Semprún, uma vez que o perfil nobelizável lhe assenta como uma luva, com (qualquer) um dos irmãos Goytisolo sobreviventes como suplente. Se o vencedor for com efeito Ngugi wa Thiong'o, errei mesmo por muito.
Mas o fixe, mesmo fixe, era que
A Academia Sueca desse o Nobel à Stephenie Meyer e depois entrasse em liquidação.