segunda-feira, setembro 12, 2005

Self-loathing sim, mas sem estrangeiros

Muito me espantaria se existisse em todo o mundo um país que faça do desprezo por si próprio enquanto povo um passatempo nacional como Portugal o faz. Temos colunas de jornal e - suponho - sei lá quantos blogues, cuja única finalidade é, semana após semana, dizer aos portugueses que são todos preguiçosos, incultos, corruptos, desorganizados, mal educados, and so on.

(Abrindo aqui um parêntesis para uma breve digressão, é curioso que preguiçosos, incultos e com falta de civismo sejam sempre e apenas os outros - aquela massa anónima de portugueses da qual o autor das críticas tem sempre a precaução de se excluir; este self-loathing não implica que os portugueses que a ele se dedicam deixem de ter a melhor opinião possível sobre si próprios e entender que, individualmente, a sua conduta é irrepreensível, e não assumam nunca qualquer responsabilidade pessoal pelo estado em que o país está).

Mas o caso muda radicalmente de figura quando essas críticas surgem vindas do estrangeiro. A reacção é completamente desabrida; exige-se guerra total e sem tréguas contra o país autor da ofensa, ou pelo menos o assassínio selectivo do autor do texto, do seu editor e de todos os que possam tê-lo lido.

Aconteceu novamente, desta vez com um artiguinho (que até é ocasionalmente engraçado) publicado no Sunday Times no qual se fazia a crítica ao restaurante português Tugga.

Claro que é um pouco irritante que aos ingleses nem lhes ocorra que a sua própria xenofobia é um defeito, e não uma excentricidade enternecedora para utilizar em colunas de jornal ligeiramente sarcásticas. Mas porque razão não ouvimos este escarcéu todo quando algum colunista - ou paineleiro de programa de debate na TV - de produção nacional escreve ou diz o pior sobre Portugal ou os portugueses (com razão ou sem ela, não é isso que está em causa), coisa que acontece todos os dias?