sábado, outubro 01, 2005

Adriaanse: ingénuo ou matreiro?

Deixei de comentar o trabalho de treinadores de futebol desde que, mais ou menos pela mesma altura:

- disse que trazer Scolari para a selecção era uma excelente ideia

- pensei que o FCP estava a cometer um erro ao contratar José Mourinho e que a melhor opção teria sido Jaime Pacheco (!)

Errare humanum est, mas desde então tenho a precaução de nunca me pronunciar de maneira categórica sobre nenhum treinador. E abro esta mensagem com palavras que não são minhas, e que ouvi a propósito de Co Adriaanse no final do jogo com o Rangers:

"Ele julga que ganha os jogos se marcar mais um golo que o adversário; joga com tudo ao ataque, pensando que, se sofrer um golo, não há problema que a seguir põe em campo mais avançados e marca dois ou três golos. É muito ingénuo."

Um bom retrato do actual estilo de jogo do FC Porto, mas "ingénuo"? Não é isso o que Adriaanse dá a entender nas suas conferências de imprensa, em especial na última. Adriaanse jogou bem com o complexo de inferioridade nacional, dizendo que quem critica o seu trabalho está a impedi-lo de trazer para Portugal um jogo mais ofensivo e espectacular, está a impedi-lo, no fundo, de melhorar todo o futebol português.

Portanto, quem contestar o estilo de jogo hiper-ofensivo que Adriaanse ensaia actualmente no Porto e as suas consequências práticas por vezes desastrosas está apenas a criar obstáculos à sua cruzada para melhorar a qualidade do futebol português e torná-lo mais agradável para o espectador, "como se vê lá fora".

Co Adriaanse está em Portugal há pouco tempo, mas já mostrou entender bem o perfil psicológico dos jornalistas e adeptos e como manobrá-los e colocá-los na defensiva, na obrigação de justificarem as críticas que lhe fazem, quando o normal seria que fosse o treinador holandês (sem grande currículo, sublinhe-se) a justificar as suas discutibilíssimas opções aos adeptos do clube que o contratou em busca de resultados, e não de belas exibições.

"Ingénuo"? Eu diria "matreiro".