sexta-feira, maio 13, 2005

Gary Brecher

O 'zine Exile é publicado em Moscovo por expatriados americanos desde meados dos anos 90.

Entre outros assuntos de interesse óbvio para o entusiasta de História Militar como levantamentos dos melhores points de prostituição de luxo em Moscovo, o Exile conta com o que só pode ser um dos melhores colunistas de assuntos militares da WWW.

O título da coluna diz tudo: The War Nerd. O autor(?) dá pelo nome de Gary Brecher, e apresenta-se como um escravo de cubículo obeso, sexualmente frustrado e mal cheiroso residente em Fresno. Como já vi sugerido algures, trata-se muito possivelmente da capa para um trabalho colectivo dos editores do próprio Exile.

"Gary Brecher" é daqueles entusiastas tótós que se diverte genuinamente com a guerra. Os seus artigos transbordam de invectivas coloridas, coloquialismos americanos e sarcasmo com a subtileza de uma carga de tijolos. Mas de toda esta chocarrice e aparente infantilidade resultam algumas linhas de fundo bem perspicazes: a guerra como nós a vemos nesses odiosos documentários triunfalistas sobre os aliados ocidentais na 2ª GM, a guerra entre Estados e exércitos regulares obedecendo a um Direito da Guerra, codificado ou não, e a propósitos políticos bem definidos tal como a conhecemos desde meados do século XVII, é a excepção, e não a regra. A regra é que a guerra é violência anárquica e sem sentido, que surge quase espontaneamente e que ninguém controla. É uma ideia que se pode encontrar em Kalevi J. Holsti, por exemplo.

Gary Brecher não rejeita qualificar como guerra o conflito sem início e sem fim na zona dos Grandes Lagos, onde as forças "militares" não têm objectivos estratégico-militares e muito menos político-estratégicos definidos e vivem do que conseguem roubar aos civis. Antes do surgimento dos Estados soberanos na Europa, todas ou quase todas as guerras assumiam estas características, e pouco ou nada as separava do banditismo.

Daí que Gary Brecher caia num certo amoralismo: não o chocam minimamente o terrorismo sistemático dos insurrectos iraquianos, ou o recurso a represálias, assassinatos ou a "guerra suja" da parte de americanos ou israelitas. Neste ponto, Brecher é totalmente coerente. Tough shit - guerra é guerra, venham as atrocidades do lado americano ou dos jihadis.

Um pouco como sucede como Michel Houellebecq, temos aqui um autor (?)que faz de tudo para chocar, para épater le bourgeouis. Mas o que ele tem para dizer - e não tenham dúvidas, ele tem muito para dizer - dá que pensar.

Arquivo War Nerd